Saturday, May 07, 2011

Caminho para a compreensão da ciência.

O homem é um ser natural, isto é, ele é um ser que faz parte integrante da natureza, não poderíamos conceber a conjunto da natureza sem nela inserir a espécie humana. Ao mesmo tempo em que se constitui um ser natural, o homem diferencia-se: para sobreviver ele precisa se relacionar com ela, que dela provêm às condições que lhe permitem perpetuar-se enquanto espécie. A ação humana não é apenas biologicamente determinada, mas se dá principalmente pela incorporação das experiências e conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração; a transmissão dessas experiências e conhecimentos – por meio da educação e da cultura – permite que a nova geração não volte ao ponto de partida da que a precedeu.

A atuação do homem diferencia-se da do animal porque, ao alterar a natureza, por meio de sua ação, torna-a humanizada; em outras palavras, a natureza adquire a marca da atividade humana. Ao mesmo tempo, o homem altera a si próprio por intermédio dessa interação; ele vai se construindo, vai se diferenciando cada vez mais das outras espécies animais. A interação homem-natureza é um processo permanente de mútua transformação.

É o processo de produção da existência humana porque o homem não só cria artefatos, instrumentos como também desenvolve idéias (conhecimentos, valores, crenças) e mecanismos para sua elaboração (desenvolvimento do raciocínio, planejamento...) A criação de instrumentos, a formulação de idéias e formas específicas de elabora-los – características identificadas como eminentemente humanas – são fruto da interação homem-natureza. O processo de produção da existência humana é um processo social; o ser humano não vive isoladamente – ao contrário, depende de outros para sobreviver. Há interdependência dos seres humanos em todas as formas da atividade humana; quaisquer que sejam suas necessidades – da produção de bens à elaboração de conhecimentos, costumes, valores... elas são criadas, atendidas e transformadas a partir da organização e do estabelecimento de relações entre os homens.
Na base de todas as relações humanas, determinando e condicionando a vida, está o trabalho – uma atividade humana intencional que envolve formas de organização, objetivando a produção dos bens necessários à vida humana. Essa organização implica uma dada maneira de dividir o trabalho necessário á sociedade e é determinada pelo nível técnico e pelos meios existentes para o trabalho, ao mesmo tempo em que os condiciona; a forma de organizar o trabalho determina também a relação entre os homens, inclusive quanto à propriedade dos instrumentos e materiais utilizados e á apropriação do produto do trabalho.

Por sua vez, é a base econômica que determina as formas políticas, jurídicas e o conjunto das idéias que existem em cada sociedade. É a transformação dessa base econômica, a partir das contradições que ela mesma engendra, que leva à transformação de toda a sociedade, implicando um novo modo de produção e uma nova forma de organização política e social. Por exemplo, nas sociedades tribais (comunais) o grupo social organizava-se por sexo e idade para produzir os bens necessários à sua sobrevivência. Às mulheres e crianças cabiam determinadas tarefas e os homens, outras. Essa primeira divisão do trabalho, além de garantir a sobrevivência do grupo, gerou um conjunto de instrumentos, técnicas, valores, costumes, crenças, conhecimentos, organização familiar e outras. A propriedade dos instrumentos de trabalho, bem como a propriedade do produto do trabalho (a caça, o peixe etc) era de toda a comunidade. A transmissão das técnicas, valores, conhecimentos etc. era feita por meio da comunicação oral e do contato pessoal, diferentemente do que ocorre atualmente.

Já na Grécia Antiga, por volta de 800 AC, o comércio, fundado na exportação e importação agrícolas e artesanais é a base da atividade econômica - registra-se um nível técnico de produção desenvolvido ao lado de uma organização política, na forma de cidades-Estado. Na sociedade atual, além da divisão do trabalho cidade-campo, ocorre uma divisão entre os produtores de bens e os donos da produção.Os produtores não detêm a propriedade da terra, nem os instrumentos de trabalho, nem o próprio produto de seu trabalho são, em sua maioria, eles mesmos propriedade de outros homens.
Nessa sociedade, as relações estabelecidas entre os homens são desiguais, alguns vivem do produto do trabalho de outros, e a produção de conhecimento é desenvolvida por aqueles que não executam o trabalho manual.
As idéias, como um dos produtos da existência humana, sofrem as mesmas determinações históricas. As idéias são a expressão das relações e atividades reais do homem – estabelecidas no processo de produção de sua existência.Elas são a representação daquilo que o homem faz, da sua maneira de viver, da forma como se relaciona com outros homens, do mundo que o circunda e das suas próprias necessidades. Para Marx e Engels (1980, p.25-26) a produção de idéias, de representações e da consciência está em primeiro lugar direta e intimamente ligada á atividade material e ao comércio material dos homens – é a linguagem da vida real. [...] Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência.

Dentre as idéias que o homem produz, parte delas constitui o conhecimento referente ao mundo. O conhecimento humano, em suas diferentes formas (senso comum, científico, teológico, estético etc.) exprime condições materiais de um dado momento histórico. A produção de conhecimento científico não é, pois, prerrogativa do homem contemporâneo. Quer nas primeiras formas de organização social, quer nas sociedades atuais, é possível identificar a constante tentativa do homem para compreender o mundo e a si mesmo, é possível identificar também, como marca comum aos diferentes momentos do processo de construção do conhecimento científico, a inter-relação entre as necessidades humanas e o conhecimento produzido: ao mesmo tempo em que atuam como geradoras de idéias e explicações, as necessidades humanas vão se transformando a partir, entre outros fatores, do conhecimento produzido.

Enquanto tentativa de explicar a realidade, a ciência caracteriza-se por ser uma atividade metódica. É uma atividade que, ao se propor a realidade, busca atingir essa meta por meio de ações passíveis de serem reproduzidas. O método científico é um conjunto de concepções sobre o homem, a natureza e o próprio conhecimento, que sustentam um conjunto de regras de ação, de procedimentos, prescritos, normatizados, dentro das regras, para se construir conhecimento científico.

O método não é o único nem permanece exatamente o mesmo, porque reflete as condições históricas concretas (as necessidades, a organização social para satisfaze-las, o nível de desenvolvimento técnico, as idéias, os conhecimentos já produzidos) do momento histórico em que o conhecimento foi elaborado.
Anna Paula Moreira.(Resumo de estudo).

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